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RELIGIÃO

Como nasceu a Igreja Anglicana

História, diferenças e semelhanças entre as igrejas Anglicana e Romana.

Publicado em 03/06/2022 às 09:37
Atualizado em

Reverendo Dionísio Ailton Pereira (Foto: Portal da Cidade)

A Igreja Anglicana é a Igreja Católica Apostólica Inglesa ou da Inglaterra. É uma igreja reformada. Ela é a continuação da Igreja Cristã que existia na Grã-Bretanha desde os primeiros séculos da nossa era. 

Durante a Reforma Protestante ocorrida no século XVI, motivada pela crise moral e doutrinária da Igreja Católica Romana, a Igreja da Inglaterra se separou da Igreja de Roma através de um Ato de Supremacia aprovado pelo Parlamento inglês em 1534. Esse ato declarou o rei Henrique VIII e seus sucessores como chefe supremo da Igreja naquele país, substituindo o papa. O Ato de Supremacia de 1534 foi revogado pela rainha católica Maria I (1553-1558), filha de Catarina de Aragão com Henrique VIII, que perseguiu e matou centenas de protestantes. 

Um segundo Ato de Supremacia, com o mesmo teor do primeiro que fora revogado, foi aprovado pelo Parlamento inglês em 1559, durante o reinado da rainha Elizabeth I (1558-1603), filha de Ana Bolena, segunda esposa de Henrique VIII. 

Esse segundo Ato de Supremacia vale até hoje, o que faz da rainha Elizabeth II a atual chefe suprema da Igreja Anglicana. Pode-se dizer que a separação da Igreja da Inglaterra com a Igreja de Roma tem dois fundamentos: religioso e político. 

O fundamento religioso é que Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, viúva de seu irmão. Para seu casamento se tornar possível, Catarina jurou que o casamento dela com Arthur, o irmão mais velho de Henrique VIII, com quem viveu casada por um período inferior a um ano, não tinha sido consumado, pois não houve ato sexual entre os dois. Esse juramento permitiu ao papa autorizar o novo casamento dela.

Ocorreu, porém, que o casamento de Henrique com Catarina, realizado em 1509, não gerava filhos. As crianças nasciam e logo morriam ou já nasciam mortas. Só sobreviveu, entre as seis crianças geradas, a quinta criança, nascida dia 18/02/1516, mas essa criança ainda era mulher – sexo oposto ao desejado pelo rei para ser seu sucessor – mas que seria a futura rainha inglesa Maria I. 

Isso fez com que Henrique VIII, que era um católico fervoroso, pensasse que seu casamento estava amaldiçoado. Esse pensamento surgiu porque ele conhecia um versículo bíblico que proibia o casamento com a viúva do irmão: “não descobrirás a nudez da mulher de seu irmão” (Levítico 18:16). 

O fundamento político é que o casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão foi o resultado de um acordo político, com a participação do papa, para estabelecer uma aliança entre os impérios espanhol e inglês. E quando o rei Henrique VIII quis divorciar-se de Catarina, ele precisou pedir autorização ao papa Clemente VI. 

O papa não aceitou seu pedido. Um dos motivos da negativa do papa era porque ele estava pressionado pela grande amizade que tinha com Carlos V, Sacro Imperador Romano Germânico, que era sobrinho de Catarina de Aragão e não queria perder a chance de influenciar o futuro da Inglaterra. 

A negativa do papa levou Henrique VIII a buscar apoio dentro do seu país. Assim, através de um tribunal nacional o Rei teve seu divórcio declarado em 1533. Em 1534 o Rei foi excomungado pelo papa. Daí em diante, estava aberta a porta para o Ato de Supremacia que consumaria a separação. 

Como vemos, diferentemente da Reforma da Igreja na Alemanha e na Suíça, onde as reformas foram realizadas por teólogos (Lutero e Calvino), a Reforma da Igreja na Inglaterra foi um ato político do Rei Henrique VIII e do Parlamento inglês. Isto explica a continuação de alguns elementos do catolicismo romano na tradição anglicana. 

Entre as semelhanças que permanecem até hoje entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica Romana podem destacar-se as seguintes: acreditam que a sagrada Escritura, bíblia, é a Palavra de Deus; professam a mesma fé através dos credos Apostólico e Niceno-Constantinopolitano; são igrejas católicas, isto é, abertas para todos os povos, raças e nações; são igrejas apostólicas, ou seja, ambas possuem bispos legítimos sucessores dos primeiros apóstolos de Cristo; ambas defendem a existência e celebram os sete sacramentos; as vestes dos ministros ordenados são semelhantes também; os ritos e livros litúrgicos usados no culto também são semelhantes (Livro de Oração Comum e o Missal romano). 

As diferenças mais visíveis entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica Romana são as seguintes: a sede da Igreja Anglicana é a Inglaterra e a sede da Igreja Católica é Roma (Vaticano); a Igreja Católica, fundamentada em seus próprios escritos, obriga seus ministros ordenados ao celibato, e a Igreja Anglicana, fundamentada apenas na Sagrada Escritura, deixa o celibato opcional; a Igreja Anglicana não tem o papa como seu chefe supremo; a Igreja Anglicana fundamenta suas práticas e ensinamentos somente na Sagrada Escritura, enquanto a Igreja Romana, além da Bíblia, fundamenta suas práticas também em vários outros escritos; a Igreja Anglicana discute a fé e as práticas cristãs da atualidade somente a partir da Sagrada Escritura, já a Igreja Católica Romana discute através de vários outros escritos também, além da Escritura. A Igreja Anglicana foi a primeira Igreja não católica romana a ser implantada no Brasil, já no século XIX, antes mesmo da proclamação da República, quando ainda era proibido o funcionamento de outros cultos em nossa terra. Eis aqui um tema que vale a pena e uso do tempo para conhecer melhor: as histórias, as diferenças e as semelhanças entre as Igrejas Reformadas, como a Anglicana, e a Igreja Romana.

Reverendo Dionísio Ailton Pereira

Pioneira

A Igreja Anglicana foi a primeira Igreja não católica romana a ser implantada no Brasil, já no século XIX, antes mesmo da proclamação da República, quando ainda era proibido o funcionamento de outros cultos em nossa terra.

Reverendo Dionísio Ailton Pereira

 

Serviço

Dionísio Ailton Pereira, tem 53 anos e nasceu em Cachoeira de Minas, no Sul do estado. Reside em Pouso Alegre desde 1993. É Licenciado em Filosofia (PUC-MG), Bacharel em Teologia (Pontifícia Faculdade de Teologia de São Paulo), Mestre em Teologia (Pontifícia Faculdade de Teologia N.S.A. de São Paulo) e Doutor em Teologia (PUC-RJ). É casado, ministro ordenado e professor universitário há mais de 20 anos. É vereador no segundo mandato e atual presidente da Câmara Municipal de Pouso Alegre/MG. 

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