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INTOLERÂNCIA

Polícia investiga racismo religioso e pode indiciar youtuber por vídeo de ódio

Coroação de Nossa Senhora por umbandistas despertou polêmica em redes sociais

Publicado em 18/05/2024 às 12:22

Culto ecumênico em Sana Rita do Sapucaí manteve tradição com presença de integrantes de religiões afro-brasilerias (Foto: reprodução/ Santuário de Santa Rita de Cássia)

Os ataques em redes sociais a um grupo de Umbanda e ao Santuário Arquidiocesano de Santa Rita de Cássia, em Santa Rita do Sapucaí, após celebração de um culto ecumênico de coroação à Nossa Senhora, estão sendo investigados pela Polícia Civil como intolerância religiosa, crime previsto na nova Lei 14.532/23, que tipifica a ação como de injúria racial. A lei prevê penas para casos de racismo em contextos de atividade esportiva, racismo religioso e recreativo. A atividade religiosa foi duramente criticada pelo youtuber Flávio Andrade, agora no bojo da investigação e que pode ser indiciado pela prática de racismo religioso e divulgação de discurso de ódio.

As celebrações foram realizadas no dia 13 de maio, em que também se comemora a abolição da escravatura no Brasil. No Santuário, Nossa Senhora foi coroada e da cerimônia participaram integrantes da Associação José do Patrocínio, uma associação de cultura negra e integrantes umbandistas do terreiro "Omolokô". Segundo o padre Omar Siqueira, que celebrava o culto ecumênico, a participação de grupos de capoeira, Folia de Reis e praticantes de religiões afro-brasilerias é uma tradição que vem de mais de 40 anos.

A participação desses grupos na celebração a Nossa Senhora mereceu a indignação do missionário e influencer Flávio Andrade, dono de um perfil em redes sociais com mais de 550 mil seguidores. Em vídeo, ele qualificou o ato como satânico e se referiu a um cartaz colocado ao lado da santa, com o nome de Mãe Isa (Ísis) de Iansã, com o comentário: “Iansã é um nome de um orixá, ou seja de um demônio, se apresentando em uma igreja católica aos pés da Virgem Maria”.

Caso semelhante de intolerância religiosa, ou injúria racial, foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais, quando a influencer Michele Dias Abreu postou que “o que está acontecendo no Rio Grande do Sul é Deus descendo com sua ira por ter muitos terreiros de macumba”. Ela responsabilizou a proliferação de religiões afro pelas enchentes que assolam o Rio Grande do Sul, em flagrante incitamento à intolerância religiosa. 

Sobre a polêmica religiosa gerada em Santa Rita do Sapucaí, o o arcebispo da Arquidiocese de Pouso Alegre, Dom José Luiz Majella Delgado, comentou: “E justamente nesta semana que nós estamos procurando viver a semana da unidade dos cristãos, portanto a igreja precisa estar aberta a todos os cristãos, foi isso que a paróquia fez, ela não fez nada de novo, muito pelo contrário, ela está vivendo a sua missão de acolher e graças a Deus que acolheu e acolheu tão bem que respeitou a fé daquelas pessoas, respeitou a cultura, a tradição e a fé, e respeitou inclusive colocando em prática a palavra de Jesus, somos todos irmãos e colocando também em prática o apelo do Papa Francisco, que disse para a multidão dos jovens na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, a Igreja é para todos, é essa Igreja que acolhe, está de portas abertas, é o que aconteceu em Santa Rita do Sapucaí".

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